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direito, historia e costumes nacionaes; faremos menção do particular cuidado que lhe mereceu a historia patria, recordando a interessante Collecção de Livros ineditos de Historia Portugueza, á frente das quaes escreveu um Discurso Preliminar, e a cada uma das peças, de que a Collecção consta, uma erudita Introducção. Até a Legislação patria lhe attrahiu a attenção, emprehendendo um Catalogo Chronologico, que depois foi ampliado por João Pedro Ribeiro.

Como subsidios para o conhecimento dos escriptos de José Corrêa da Serra, bem como dos serviços por elle prestados ás Letras, ás Sciencias, e aos interesses do nosso paiz, vejão-se os seguintes documentos:

-Elogio Historico de José Corrêa da Serra, recitado na Sessão pública da Acad. R. das Scienc. de Lisboa do 1.o de Dezembro de 1829, por Manoel José Maria da Costa e Sá. -Memorias da Acad. das Scienc. passim.

Memorias Economicas da mesma Acad.

Collecção de Livros ineditos de Hist. Port. (Disc. Prel. e Intruducções).

Balbi, que tambem traz por appendice, em francez, o trabalho litterario de Corrêa da Serra, de que acima damos conta, vertido em portuguez pelo Sr. Freire de Carvalho, diz no tomo 2.o do seu Essai Statistique o seguinte a respeito de José Corrêa da Serra:

«C'est un des botanistes les plus distingués de l'Europe, connu surtout par ses savants mémoires sur la botanique physiologique, qui sont insérés dans les Transactions philosophiques de la société royale de Londres et dans les Annales du Museumde París. C'est avec le secours de l'abbé Corrêa que le duc de Lafões fonda l'Académie des Sciences de Lisbonne, dont il fut élu Secrétaire perpétuel. C'est un des portugais modernes qui ont le plus voyagé, etc.»

Antes da publicação do Ensaio de que acabamos de fallar, sahio á luz em França um livro de grande merecimento, que muito faz ao nosso proposito, e vem a ser: RÉSUMÉ DE L'HISTOIRE LITTÉRAIRE DU PORTUGAL―par Ferdinand Denis. 1826.

O nome do Sr. Ferdinand Denis deve ser-nos tão caro, como se fosse o de um compatriota nosso, pelo serio estudo que tem consagrado ás nossas Letras, pelo enthusiasmo e quasi paixão com que ha pretendido rehabilitar a nossa fama no mundo civilisado, pelos relevantes serviços que em similhante carreira tem prestado a

Portugal.-Vendo elle que em França não era bem conhecida a Litteratura portugueza, e por outro lado, que não existe ainda a Historia Litteraria d'esse povo extraordinario, que brilhou apenas por um instante, mas assim mesmo encheu o mundo com a sua gloria, deliberou-se a apresentar um bosquejo d'essa Litteratura, tão ignorada, talvez tão despresada!-O illustre Litterato quiz ser apreciador justo, imparcial, verdadeiro, exacto... e para conseguir este grande desideratum, ei-lo que se entrega ao exame profundo de tudo quanto n'este particular póde fornecer-lhe luz, e encaminha-lo nas suas indagações. Folheia e estuda as Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa-as de Litteratura Portugueza, publicadas pela mesma―a Bibliotheca Lusitana de Diogo Barbosa Machado-o Theatrum Lusitaniæ Litterarium (Ms.) de João Soares de Brito-o Diccionario da Lingua Portugueza, publicado pela Academia Real das Sciencias de Lisboa-as Obras Poeticas de Francisco Dias Gomes-os Annaes da Sciencias e das Artes. Não contente com estes subsidios, consulta os Authores estrangeiros que tratárão das nossas Letras, taes como: Sismondi, Bouterweck, o Mercurio Estrangeiro, I inck, Duchâtelet, e Dumourier (viagens), Andrés e Balbi; e a final lê os nossos Escriptores de diversos generos e seculos, para adquirir um cabal conhecimento do assumpto.- Possuidor de taes conhecimentos, e enriquecido com esses cabedaes, passa a apreciar o merecimento litterario dos portuguezes nos differentes periodos da sua vida nacional, e é então que muito sobresahem o vivo interesse, o sentido enthusiasmo que as nossas cousas lhe inspirão, a par de todos os requisitos de excellente critico.-E comtudo o maior merecimento do Résumé (aliàs tão recommendavel pelo methodo, doutrina, gosto e criterio) he o de demonstrar a indispensabilidade de um trabalho infinitamente mais extenso, desenvolvido e largo, talvez segundo o modelo da inapreciavel obra de Ginguené.

-BIBLIOTHECA LUSITANA HISTORICA, CRITICA E CHRONOLOGICA -por Diogo Barbosa Machado. Lisboa 1741-1759.

A Bibliotheca Lusitana he a obra mais rica que possuimos em noticias biographicas e bibliographicas dos nossos Escriptores, e por esta razão ha de ser sempre consultada, com muito proveito das Letras. O douto e incansavel Author aproveitou o Thesaurum Lusitaniæ, sive Bibliotheca Scriptorum omnium Lusitanorum, do doutor João Soares de Brito; recorreu, com admi

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ravel paciencia, a todas as fontes de erudição que encontrou em varios manuscriptos, e a informações de pessoas competentes, e fez á Litteratura portugueza um relevante serviço, colligindo um vasto catalogo chronologico, historico, e critico dos Authores portuguezes, e das obras que compuzerão. Um tal trabalho, porém, requeria essencialmente a mais apurada critica, e não parece ser esta a qualidade que mais sobresahe na obra de Barbosa, com quanto digna do mais subido apreço a muitos respeitos.

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O Sr. Ferdinand Denis, fallando d'esta obra, diz: «Não esperemos de Barbosa uma critica interessante; conta a vida dos authores, apresenta a lista das suas obras, e transcreve o juizo critico que outros têem feito, e n'esta parte deve ser lido com toda a reserva, por isso que, de envolta com louvores imparciaes e illustrados, refere outros, que ou são devidos a mera contemplação, ou peccão por exagerados. »He necessario, diz um philologo nosso, desconfiar muito dos elogios em que costuma ser prodigo o author da Bibliotheca. Veja-se o nosso José de Sousa, que era um cego dado á poesia, e ahi se encontrará uma hyperbole a mais injuriosa á memoria do cantor da Illiada. O mesmo philologo diz n'outra parte: Não he seguro o author em as noticias da Litteratura grega, nas quaes, ainda ignorando a lingua, podia ser mais exacto.-Na Bibliotheca notão-se muitos erros de datas, descuido aliâs que não deve ser estranhado severamente em obra de tal natureza e tão vasta.-No Diccionario da Academia é elogiada esta obra, como: ntre nós primeira, e até agora unica no seu genero, digna da publica estimação, e sempre benemerita da Litteratura portugueza, por seu grande trabalho, indispensavel utilidade, copiosa lição, e experimentado prestimo. Mais abaixo, porém, lê-se: Se d'ella... algumas vezes nos apartámos, ou lhe advertimos alguns descuidos, he, ou por motivos que a isso nos obrigaram poderosos, ... ou para que os taes descuidos, inevitaveis em uma tão longa obra, se emendem para o futuro em beneficio commum.-Da Bibliotheca fez um Summario ou Resumo o professor Bento José de Sousa Farinha, que muito util se torna aos que não possuem a obra completa.

No erudito Prologo diz Machado, depois de mencionar todos os trabalhos da. historia Litteraria de differentes nações: «Sendo a Nação Portugueza tão respeitada em todo o orbe Litterario pela profundidade com que he instruida em todas as sciencias, sómente lhe faltava para ultimo complemento da sua gloria pu

blicar a Bibliotheca dos Authores, de que foi fecundissima Mây. »

¿Quaes forão os subsidios de que se aproveitou Machado para a sua Bibliotheca?

1.o O Catalogo de seiscentos e setenta e sete Authores, por Francisco Galvão de Mendanha, (fallecido em 1627), a quem Severim de Faria chamou grande benemerito dos Escritores Portuguezes.

2.o Catalogo dos Escritores Portuguezes, por Manoel de Faria e Souza. Este Catalogo constava de 823 Authores,―em, quanto que o impresso da 4.a Part. Cap. 18 do Epitome de las Hist. Portug. consta unicamente de 206.

3.o Theatrum Lusitaniæ Litterarium, sive Bibliotheca Scriptorum omnium Lusitanorum, por João Soares de' Brito. (Este mss. pára na Bibliotheca Imperial de París, e contém 876 nomes). N.B. Todas estas obras manuscriptas foram officiosamente subministradas a Machado, e dellas tirou o conveniente partido para a sua Bibliotheca.

4. Succinta noticia dos principaes Authores, que florecêrão em Portugal.... por D. Francisco Manoel de Mello.

Vem na 1.a Carta da 4.a Cent. das suas Cartas Familiares. 5.o Noticia dos Authores Portuguezes, por João Franco Barreto. (Vej. Elogio de Achilles Estaço, e o Agiologio Lusitano, 3.o tomo).

6. Machado vio tambem 4 vol. mss. do Jesuita Francisco da Cruz, «onde, diz elle, confusamente estão lançadas as noticias, e muitas vezes em diversos logares repetidas. >>

N. B. Todos os trabalhos citados são anteriores ao seculo XVIII.

Dos trabalhos historico-litterarios do seculo XVIII aproveitou Machado todos os escriptos especiaes das differentes Religiões, colhendo delles todas as noticias que fazião ao seu proposito.

Alem das Obras impressas, e dos manuscriptos que encontrou nas Bibliothecas, confessa Barbosa ser devedor de interessantes noticias a diversos Religiosos, seus contemporaneos, os quaes << attendendo igualmente pela gloria da Patria, e da sua Religião» lhe communicárão importantes apontamentos.

Machado tinha tencionado escrever em Latim a Bibliotheca, e parece que havia já composto uma grande parte n'essa lingua; felizmente, porém, mudou de opinião, e resolveu escrevê-la em

portuguez para que a utilidade, que se pode colher da lição d'esta obra, fosse a todos patente.

O modo por que Machado comprehendeu o destino e o alcance da Bibliotheca, he por elle manifestado no typo que concebeu para taes obras, e he o seguinte:

« N'ellas se fazem patentes as Patrias, que illustrárão com seus nacimentos, como os logares que forão religiosos depositos das suas cinzas. Relatão-se as acções memoraveis das suas vidas para documentos exemplares da vida moral, e politica. Com a luz sempre clara da chronologia se desterrão as sombras dos anacronismos, que confundem a verdadeira epocha dos annos. Restitue-se ao seu verdadeiro Author a obra injustamente uzurpada pela affectada Sciencia dos Plagiarios. Defende-se com fundamentos solidos o berço em que se animárão alguns de seus illustres filhos contra a opinião mal fundada de outras Nações ambiciosas de tão grande gloria. Apparece justificada a innocencia de outros, falsamente accusada no Tribunal da maledicencia. Declara-se o nome de muitos, modesta ou maliciosamente occulto, e com enigmaticas figuras de anagrammas, e letras iniciaes disfarçado. Resuscitão das urnas dos Archivos as obras mss. a quem a Arte Typographica negou o beneficio da luz publica. Ultimamente se assignão as diversas impressões de cada livro, e qual d'ellas seja a mais correcta e estimavel. Esta he a universal anathomia de uma Bibliotheca dividida nas partes organicas, que lhe formão o corpo, de cujo estudo forão Professores em todas as idades os primeiros Varões da Republica Litteraria, escrevendo uns genericamente a noticia dos Authores eminentes em diversas Faculdades, e naturaes de differentes Paizes; outros, contrahindo-se a menor esphera, applicárão as suas vigilias nos elogios de uma sagrada familia, ou illustre Nação, querendo com este obsequio eternisar as glorias da Mãe, de que nacêrão espiritualmente para o Céo, e temporalmente para o Mundo. >>

Tratando-se de uma obra tão importante, como he a Bibliotheca Lusitana, julgo indispensavel fornecer aos Leitores a maior somma de esclarecimentos.-Além do juizo critico, já transcripto acima, do Sr. Ferdinand Denis, lançaremos aqui o mais que a respeito de Barbosa pondéra aquelle illustre Litterato: « C'est un des Auteurs que l'on peut consulter avec sécurité, quand on s'occupe de la Littérature Portuguaise: em général, ses documens sont exacts, et ils sont fort nombreux. Comme il parait

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