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JERONYMO SOARES BARBOSA. «As duas linguas, ou Gram. Philos. da Ling. Port., comparada com a latina, para ambas se aprenderem ao mesmo tempo. >>

<< Ponho os principios communs a todas as linguas; d'elles formo as regras geraes da linguagem, que applico primeiro á lingua portugueza em exemplos curtos e familiares, os quaes traduzidos logo em latim, mostrão a conformidade das duas linguas e quando a latina discrepa da nossa (o que raras vezes succede) ponho primeiro o exemplo latino, seguido immediatamente de sua traducção em linguagem. >>

-JOSÉ VICENTE GOMES DE MOURA. «Noticia succinta dos monumentos da Lingua Latina, etc. »>

«.... E por este modo sabemos que as linguas italiana, franceza, hespanhola e portugueza são irmãs, e fazem uma familia, que descende da latina em tão grande parte, que se lhes tirarmos o fundo, que d'esta receberão, restará mui pouco. >>

-M. FERDINAND DENIS. Résumé de l'Histoire du Portugal.

No Capitulo 1.o, que tem por titulo:-Pourquoi la littérature portugaise est peu connue.-Origine de la langue, ses progrès diz o illustre author o seguinte:

=«Quoique nous n'ayons point de grands détails sur la langue des anciens habitans de la Lusitanie, il parâit, d'après le témoignage de Strabon, que ce langage était déjà assez avancé, puisque les Turditains avaient un grand nombre de lois écrites en vers, et qu'ils possédaient même, selon cet auteur, des ouvrages de la plus haute antiquité.

<< Il est probable, comme le fait observer Faria, qu'il arriva dans la Lusitanie ce qui arrive chez toutes les petites nations conquises. Les peuplades changèrent d'idiomes comme elles changeaient de princes étrangers. Cette contrée fut plus sujette à de semblables révolutions que le reste de l'Espagne, en raison du nombre de ses ports, visités alors si fréquemment.

« Bientôt, cependant, les invasions des Romains exercèrent sur le langage une influence durable; le latin fut adopté presque généralement, et les conquêtes des Goths et des Africains ne purent changer entièrement le caractère d'une langue tout à la fois noble, sonore et harmonieuse, dont la perfection avait suffisemment frappé des peuples encore barbares, pour qu'ils ne l'oubliassent plus. Dès lors le latin devint le modèle du portu

gais; il se modifia selon les peuples conquérans, mais il n'a point subi autant de changemens que dans l'Italie, et depuis les bons écrivains ont fait constamment leurs efforts pour ramener son harmonie dans le langage qu'ils perfectionnaient. Plusieurs auteurs se sont même exercés à composer des morceaux qui sont également latins et portugais; j'en ai rassemblé les preuves dans les notes de cet ouvrage. »=

-ANONIMO. «A Lingua Portugueza he filha da Latina, ou Refutação da Memoria em que o Sr. Patriarcha eleito, D. Francisco de S. Luiz, nega esta filiação.» 1843 Lisboa. >>

=«O Sr. D. Francisco de S. Luiz disputa á lingua portugueza a sua descendencia da latina; e como opinião correlativa, sustenta tambem que o latim nunca fôra vulgar em Portugal. -Examinarei esta Memoria. Ha paradoxos que he preciso combater, principalmente quando seus effeitos podem ser perniciosos, e se acham apoiados, como este, pela reputação de um nome illustre. »>=

O SR. ALEXANDRE HERCULANO. «Historia de Portugal, Introducção. » — «Resposta ao Conde A. Raczinski. » — «Reflexões Ethnographicas, Philologicas e Historicas a proposito de uma publicação recente sobre a origem celtica da lingua portugueza.» (Panor. 155, 1844).

=<< Temos procurado fazer sentir a completa revolução operada na Peninsula pela civilisação romana, e por consequencia a necessidade de admittirmos que a lingua latina chegou a obter inteiro dominio n'estas partes, cumprindo todavia não esquecer que essa lingua devia ser a quotidiana, rustica ou simples, alterada desde logo por phrases e vocabulos indigenas, e cujas differenças do latim litterario só podemos até certo ponto suspeitar, sendo as mais provaveis entre ellas, como dissemos, a confusão ou falta dos casos nos nomes, e das variações verbaes, d'onde era forçoso nascesse a ordem natural no discurso, e o uso frequente das preposições. »=

$ 2.0

AUTHORES QUE IMPUGNÃO A FILIAÇÃO LATINA.

ANTONIO RIBEIRO DOS SANTOS. «Memoria sobre as origens e progressos da poesia portugueza. >>

-Mostramos em nossa Obra das origens da antiga lingua de Hespanha, e de seus actuaes dialectos, que a nação hespanhola conservou sempre o seu idioma primitivo, posto que alterado, em todo o tempo do senhorio e dominação romana.=

-JOÃO PEDRO RIBEIRO. «Dissertações Chronologicas e Criticas, tom. 1, disc. 5.»

=«Eu porém me persuado, que a lingua original das Hespanhas se não extinguiu com a dominação dos romanos, antes conservando-se tambem atravez da dominação dos godos, suevos e arabes, foi n'este quarto periodo que se subdividiu, etc. »—

-FR. JOAQUIM DE SANTA ROSA DE VITERBO. «Elucidario.»> Na Advertencia Preliminar diz o author: « Occupem-se nestas cousas (origens de palavras) os homens grandemente versados nos idiomas mais antigos, qual o Corduvez Aldrete, bem conhecido pela sua obra Origem da Lingua Castelhana, impressa no anno de 1613; mas ficaremos sempre na certeza, que apezar da sua erudição pasmosa, talvez nos vende por demonstrações as conjecturas, e que tudo o que avançou com attendiveis fundamentos sobre a Origem da Lingua Castelhana, igualmente pertence á Lingua Portugueza, que naquelle primeiro periodo se não distinguia, da que em toda a Hespanha se fallava. »

-D. FRANCISCO DE S. LUIZ. «Memoria em que se pretende mostrar que a lingua portugueza não é filha da latina, nem esta foi em tempo algum a lingua vulgar dos lusitanos. >>

«É nosso intento examinar n'esta Memoria se a lingua portugueza é filha (como dizem) da latina, isto é, se pela entrada e longa dominação dos romanos na Lusitania, ficou a sua lingua sendo commum e vulgar entre nós, esquecido ou abandonado o nacional idioma; ou se este continuou a usar-se do mesmo modo na communicação e tracto familiar dos povos, ainda que progres

sivamente modificado e alterado pela mistura de fórmas, voca→ bulos, phrases e expressões da lingua latina? »>===

-DOIS SOCIOS DO Conservatorio Real de Lisboa. «Opusculo ácerca da origem da lingua portugueza, composto e dedicado ao Ex.mo Sr. Conselheiro João Baptista de Almeida Garret por dois Socios do Conservatorio Real de Lisboa.» (1844)

Em refutação do Opusculo que acima apontamos com a designação de Anonimo, pretendem os authores mostrar: 1.o que o latim, introduzido na Peninsula pela conquista dos romanos, não foi, durante o dominio d'aquella nação, a lingua vulgar dos hespanhoes e portuguezes: 2.° que tambem o não foi até ao reinado de D. Diniz, epocha em que, conforme a opinião geralmente recebida, começou a figurar a nossa lingua: 3.o que em a natureza d'estes dois idiomas se dá uma opposição manifesta: 4.o finalmente que o celtico é a fonte genuina do portuguez.

N. B. Não sahiu a lume senão a 1.a parte, que tem por titulo: «A lingua antiga dos hespanhoes, conservada durante todo o periodo do dominio romano. »>

«

N'este Opusculo vem estampada uma carta do Sr. Garrett, datada de 18 de Setembro de 1844, na qual se lê o seguinte S: << É possivel, sómente direi, que a nossa admiração pelo nosso seculo de oiro, o XVI, cegue alguma cousa os defensores da opinião latina; mas também é mais que possivel que a moda, o espirito reaccionario que em todas as coisas dos homens se manifesta em tempos e epochas sabidas, desvaire não pouco tambem os defensores da opinião contraria.»

No paragrapho seguinte apresentaremos em combate a origem celtica, e a origem latina, terceiro ponto do nosso trabalho em quanto à filiação da lingua portugneza.

$ 3.o

ARGUMENTOS DE CADA UMA DAS DUAS OPINIÕES.

Littora littoribus contraria.

Vamos assistir ao combate entre a origem celtica e a origem latina da lingua portugueza. Tomaremos a «Memoria >> do Sr. S. Luiz, e a «Refutação» da mesma; faremos um extracto

succinto, mas fiel, dos argumentos de ambas, a fim de que os leitores possão formar um juizo seguro, e decidir entre as duas parcialidades.

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Difficuldade ou quasi impossibilidade da mudança de lingua.-Difficuldade ou quasi impossibilidade que se encontraria em fazer uma tão substancial e absoluta mudança, qual a do uso exclusivo da lingua latina pela linguagem usada pelos nossos maiores antes da entrada dos romanos no nosso territorio.

1. rasão: Porque os homens conservão a linguagem da infancia com tanta tenacidade, quanta he a que se observa na conservação de todos os habitos, usos e geitos que adquirimos nos tenros annos, e que depois se vão progressivamente fortificando com a pratica quotidiana, contínua, incessante de toda a vida.

2.a rasão: Porque nem a dependencia da sujeição dos vencidos, nem a lisonja para com os vencedores, nem a preponderancia da dominação, embora exercitada por uma nação culta, podem extinguir jámais de todo a lingua original, e primitiva de um povo, nem chegar a transformar a sua indole, genio, e caracter natural e proprio, ou a alterar substancialmente as suas fórmas distinctas e essenciaes.

Provas historicas: A historia antiga offerece muitas provas desta asserção. O Egypto foi successivamente subjugado pelos persas, gregos, romanos, e arabes, e comtudo conservou a lingua egypcia até ao seculo xv da era vulgar, devendo notar-se que a lingua arabe não chegaria a naturalisar-se de todo no Egypto, apesar de tão longa dominação, se as barbaridades de tantos seculos não houvessem exterminado a maior parte das familias indigenas. -Os hebreus forão conquistados pelos gregos e pelos romanos, e nem por isso daquelles dois grandes povos pôde extinguir-se, ou ainda alterar-se a lingua nacional e propria. As regiões septentrionaes da Africa forão completamente dominadas pelos romanos, e sem embargo disso a lingua punica era ainda vulgar naquelles logares nos fins do Iv e principios do v seculo. Os phenicios e carthaginezes viverão entre nós por alguns seculos, e nem por isso os povos peninsulares adoptárão o seu idioma, posto que delle tomassem muitos vocabulos. ¿Não he certo, por outro lado, que as Hespanhas tiverão longa e estreita communicação e intimo tracto com os arabes?

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