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effeito tambem se manifesta quando as arvores estão em sitios sombrios: apenas criam pequenos rebentos, e não copam. As arvores, plantadas em sitios elevados, onde as açoitam muito os ventos frios, são em geral pouco ferteis, porque os botões de fructo não resistem ás geadas.

Nos dois primeiros casos convem desbastar os pomares, arrancando uma arvore entre duas; no ultimo caso é preciso retardar a florescencia, o que se consegue collocando na terra em roda do tronco pedaços de gelo.

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C. Terreno contrario. Uma arvore nunca deve ser substituida por outra da mesma especie, pela rasão de que a primeira tendo absorvido da terra todos os succos necessarios á sua especie, a segunda não acha na terra estes succos, exhauridos pela primeira. Se, entretanto, por qualquer motivo, convier que uma arvore suppra outra da mesma especie, é preciso tirar, sobre um circumferencia de nove palmos de diametro e pouco menos de fundo, a terra onde vegetou a primeira arvore, e encher a cova, que d'ahi resulta, com terra nova e boa. Sem isto a arvore, que se plantar, não prosperará.

mos de expor nos parecem sufficientes para o fim a que nos propozemos. Por mais extraordinarios e contradictorios que pareçam, nem por isso deixam de ter facil explicação aos olhos do philologo, que quer reflectir nas causas differentes que produzem este phenomeno ethnographico, com todas as anomalias que o acampanham.»

Qual é pois esse principio de explicação? Ei-lo aqui, nas proprias e originaes palavras de M, Balbi : «Lorsque deux peuples, et par conséquent deux idiomes, se sont choqués, l'idiome le moins cultivé, le moins littéraire, s'est perdu en grande partie ou entièrement; car ce n'est pas la conquête, la domination, qui introduit et maintient tel idiome dans telle contrée: c'est presque toujours la supériorité relative de l'idiome qui finit par le rendre dominant, soit qu'il appartienne au vainqueur, soit qu'il appartienne au vaincu

O auctor da Refutação não se esqueceu de apre→ sentar esta doutrina de M. Balbi, e com toda a rasão conclue d'este modo; -«Fazendo applicação d'este principio incontestavel em linguistica aos hespanhoes e portuguezes, não póde duvidar-se que a lingua latina, só pela sua superioridade sobre os dialectos peninsulares, ainda independentemente da influencia religiosa e da legislação, devia a final acabar por absorve-los, e ficar dominando exclusivamente o paiz. » E em demonstração do muito que eram afeiçoados

A esterilidade tambem provém de ser o sólo, para onde as arvores são transplantadas, differente d'aquelle onde foram creadas. Precisam n'este caso de algum tempo, primeiro que se acostumem ao novo terreno. Se o sobsólo é formado de area, cascaTho ou rocha, as arvores param no seu desinvolvi-ás lettras romanas os habitantes das Hespanhas, e mento logo que as suas raizes tiverem atravessado camada de terra vegetal, e não produzem mais nem rebentos novos, nem botões fructiferos. Tambem se tornam estereis, ainda que sejam das especies mais productivas, se encontram um terreno fraco : produzirão, é verdade, botões fructiferos, que chegam a desinvolver-se em flores, mas a falta de nutrição os fará cahir, ou se assim mesmo derem alguns fructos, estes nunca chegarão ao tamanho que devem.

para se avaliar a boa vontade com que por elles seria acolhida a lingua latina, faremos menção de dois exemplos que cita Aldrete no cap. 22 da sua obra,

Del origen y principio de la lengua castellana.= Seja o primeiro o facto referido por Plinio, liv. 2.o, Epist. 3. «Nunquam legisti Gaditanum quemdam «Titi Livii nomine, gloriaque commotum ad visen«dum cum ab ultimo terrarum orbe venisse, statim «que ut viderat abiisse?»- - Seja o segundo o facto referido pelo mesmo Plinio, liv. 3., Epist. ad Ma

« Referebat ipse (Plinius maior) potuisse se,

As arvores, que se acham n'estes casos, podem ser reanimadas por estrumes applicados discretamen-crum; te, por cavas na terra, pela limpeza do tronco, etc, « cum procuraret in Hispania, vendere hos CommenUm terreno forte em demasia tambem póde cau- «tarios Laertio Licinio quadringentibus millibus num→ sar a esterilidade Esta provém então de, um excesso «mum, et tunc aliquanto pauciores erant. E com.efde succos nutritivos, que, enchendo rapidamente to- feito, poderia acaso succeder que um homem se ardos os vasos, os alargam primeiro, e espalham-se de- rojasse a ir de Cadix a Roma, só para ver Tito Lipois em todas as ramificações, onde geram um gran-vio; è que um estrangeiro offerecesse dez mil escude numero de ramos parasitas e pouco fructiferos. Remedèa-se este mal, misturando n'esta terra forte outras fracas, area, etc., ou sangrando a arvore.

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dos pelos livros de Plinio Maior, se no tempo em que esses factos foram praticados não houvesse › uma decidida paixão pelas lettras, e se o idioma e os escriptos dos romanos não fossem estimados nas Hespanhas ?

"

Não nos contentemos porém com estes testemunhos, e ouçamos a opinião de um homem, que n'estas materias gosa de grande conceito, o já citado Denina (Tom. 2. Part. 4. sect. 1. art. 1. pag. 116 e 117): «Il est bien sûr que les Hispaniens avant que les Romains portassent leurs armes sur l'Ebre et le Tage, parlaient une langue peu différentes de celle que parlaient les Gaulois et qu'après que les. Ro mains étendirent leurs conquêtes vers l'occident, l'Es pagne leur fut soumise de gré ou de force bien avant que César eût conquis les Gaules. Ainsi la langue des conquérans et maîtres fut introduite et établie en Espagne, sous ses premiers successeurs, et à pei

E finalmente, por tal motivo disse com rasão o valenciano Luiz Vives: «Curabant ergo Romani, ut in « Hispanias, et Gallias Latinas prorsus fecerint vete«ribus illarum gentium linguis abolitis. Rem pro«fecto conabantur pulcherrimam, et toto humano ge«neri utilissimam, quocumque id fine facerent, ut «esset una aliqua lingua, qua se gentes omnés mu«tuo intelligerent. >>

ne un siècle s'était-il écoulé depuis la mort de Ci- D'aqui resultou poder Plinio dizer já: « Et tot po céron et de César, et un demi-siècle depuis celle de «pulorum discordes, feras que linguas sermonis.comTite-Live et de Virgile, que les auteurs nés en Es-«mercio contraheret ad colloquia; » a cujo respeito pagne étaient estimés autant ou plus même que les observa Aldrete: «No se pudo dezir, ni mas breve, Romains et qu'aucun de leurs contemporains nés en «ni con mas propriedad el averse reduzido las proItalie. Je dirai que, quoique la préférence qu'on don- «vincias a la lengua latina. » nait à Sénèque sur Cicéron, à Lucain sur Virgile fût injuste; elle prouve toujours le génie naturel des Espagnols, puisqu'ils se sont si hautement distingués dans un pays où la culture des lettres était portée au plus haut degré, et de l'autre côté cela ne laisse pas lieu de douter, que la langue romaine ne fût dès le temps d'Auguste la langue dominante en Espagne, surtout dans les premières classes des habitans, qui ne tardèrent pas à la rendre commune, même au bas- Vejamos agora como o Sr. A. Herculano tracpeuple. Aussi Horace nous apprend-t-il en termes bien tou esta questão na «Introducção á Historia de Porclairs, que ses ouvrages ainsi que ceux de tous les tugal. »> bons auteurs latins avaient grands cours en Espagne, O Sr. Herculano, pondo de parte o exame do moet que dès avant les beaux jours de la littérature la-do como se operou a alteração da linguagem hispa tine, elle y était cultivée avec succès plus même que nico-romana, demonstra concludentemente que os redans la Gaule méridionale, où d'ailleurs les études sultados da conquista romana se estenderam até á étaient assez florissantes. Me peritus discet Iber, dit-transformação dos idiomas da Hespanha, fossem elil, Rhodanique polor. (Ode 20, liv. 2.) Quelque sens les quaes fossem. A organisação administrativa das que l'on donne à cet épithète de peritus, qu'on le provincias era apropriada para romanisar as gentes fasse signifier en général instruit, exercé, formé, ex-domadas pelas armas ou pelas allianças, fazendo-lhes périmenté, ou qu'on le prenne dans la signification esquecer até a linguagem nativa. Segundo a opiparticulière d'expert, exercé dans l'étude du latin, nião de M. Guizot, o systema de povoação dos rocela prouve toujours que les Espagnols étaient déjà manos era, até certo ponto, o inverso do nosso. Em versés et fort avancés, dans le latin. Persone n'igno- todas as provincias sujeitas a Roma reflectia-se a vire que sous Vespasien le meilleur maître de Rhéto- da social d'esta. O municipio, que fora a fórma de rique et un des poètes les plus en vogue, étaient Es- sociedade com que a republica nascêra, vigorára e pagnols. >> crescêra, e que as revoluções interiores, a tyrannia dos Cesares, e até a invasão dos barbaros, não póderam extinguir, reproduziu-se por todas as partes onde chegou o dominio romano.

Apertemos ainda mais o ponto, para demonstrar que essa mudança de linguagem, e adopção da latina, longe de serem impossiveis, eram, pelo contrario, indispensaveis, e necessariamente determinadas pela natureza das coisas. Ouçamos o que a este respeito diz o erudito Aldrete, já citado:

«Forçoso era, que el que venia hablar, y rogar « al que señoreava la tierra, aun que no fuesse sino « por lisongearle, le hubiesse de hablar en su len« gua. Juntavase con esto el excluir à los que no la << sabian de todas las causas civiles, y aun de ser a testigos, como Tiberio quiso, que no lo fuesse el « otro soldado, sino dezia su dicho en latin, y los << antiguos jurisconsultos dudaron, si los que no lo <«< sabian podian ser testigos de testamentos, por que « les pareció, que avian de entender lo que contenia, « que era en latin. Gran motivo para aprenderlo, vien« do que no sabíendolo no eran admitidos á ser jue<«<zes, de Claudio se refiere, que a un varon illustre « principe en la provincia de Grecia, por que lo «< ignorava, no solo lo borró de la lista de los jue« zes, pero tambien le privé, de que no fuesse ciuda<<< dano romano. Splendidum virum, Gretiœ que provin «tiæ principem verum Latini sermonis ignarum non « modo albo judicum erasil, sed etiam in peregrinitaa tem redegit. Que no aprendiera quien assi se via << tratar? Cada uno de razon devia temer semejante «< afrenta. — Creció con esto la lengua latina en las « provincias, si bien no tan púra, y elegante como « en Roma, donde era natural, y aquel cyelo la ayu« dava, para que se diesse mejor à los que en aquel « suelo habitavan.»

-

«Nas Gallias, na Hespanha, diz M. Guizot, não encontraes senão cidades. Os territorios desviados d'ellas estão cobertos de selvas e alagadiços. Averiguae qual seja o caracter dos monumentos, das vias romanas. Achareis estradas reaes, que vão de cidade a cidade; porém essa multidão de caminhos encruzilhados, que hoje sulcam o territorio, eram então incognitos. Nada havia que se parecesse com a indizivel quantidade de monumentosinhos, d'aldeias, de castellos, d'igrejas, dispersos pelo paiz desde a edade media.... Examinae a que luz vos aprouver o mundo romano, que sempre achareis essa preponderancia quasi exclusiva das cidades, e a não existencia social dos campos. »

N'este facto fundamental, que distingue a civilisação antiga da moderna, encontra o Sr. Herculano a explicação da facilidade e rapidez com que os romanos convertiam as outras nacionalidades na sua, e alcançavam, até, substituir a propria linguagem á dos povos subjugados: N

«A assimilação, diz o Sr. Herculano, devia ser: tanto mais fácil, quanto os vencidos fossem ou mais barbaros, ou de raças mais misturadas. Nas Galliasrealisava-se principalmente a primeira hypothese; nas Hespanha principalmente a segunda. Imaginemos a gente nativa, encerrada nos muros das cidades, our reconstruidas ou edificadas de novo pelos romanos, sujeita, com o correr dos tempos, á organisação administrativa, judicial; e militar dos conquistadores,

frequentada pelos seus magistrados, funccionariosi e
exactores, aquartelando as suas tropas, tractando os
pleitos nos seus tribunaes, recebendo dos romanos os
commodos da vida e os objectos de luxo, correndo
aos theatros que se alevantavam por toda a parte, e
aonde os attrahiam as graças e as pompas do drama
latino, e recolhendo nos proprios muros um grande
numero de individuos, que, depois de militarem nos
exercitos de Roma, vinham, transformados em roma-
nos, orgulhosos da illustração adquirida no meio
d'elles, converter, com o desdem da superioridade,
á vida e á linguagem da Italia os membros mais
grosseiros das suas familias. Depois, quando estas e
mil outras causas de assimilação, actuando por secu-
los, produziram todo o seu effeito, as differenças que
distinguiam os vencidos dos vencedores desappare-
ceram inteiramente. Caracalla, attribuindo o carac-
ter de cidadãos romanos a todos os homens livres do
imperio, não fazia uma revolução nas instituições;
mas declarava simplesmente, que um grande facto
social se achava consummado. »

O testimunho dos escriptores d'esse tempo estará
acaso de accordo com a antecedente deducção dos
factos sociaes? Sim, como o prova a seguinte passa-
gem de Strabão, a que já se alludiu no artigo ante-
rior: «Acresce á bondade do clima que desfructam
os turdetanos, a brandura e a civilisação, o que, se-
gundo Polybio, é tambem commum aos celticos pela
visinhança e parentesco, posto que em gráu menor,
por habitarem de ordinario em logarejos. Os turde-
tanos, porém, principalmente os das margens do Be-
tis, tomaram de todo os costumes romanos, esque-
cendo até a propria lingua, e muitos, tornados lati-
nos, receberam no seu seio colonos de Roma, fallan-
do pouco para inteiramente serem romanos. As cida-
des ultimamente edificadas, Beja entre os celticos,
Merida entre os turdulos, Saragoça entre os celtibe-
ros, e varias outras colonias provam essas mudanças
de aspecto da sociedade. Os hespanhoes, que seguem
este modo de viver, chamam-lhes stolados ou toga-
dos, entrando n'este numero os celtiberos, tidos n'ou-
tro tempo pelos mais feros e desconversaveis de to-
dos. »

Ora, se já no XV anno da era christã, e IV do
imperador Tiberio (em que Strabão escrevia a sua
grande obra geographica) a transformação romana
havia lançado tão profundas raizes, não admira que
desde essa epocha todos os monumentos historicos
conspirem em nos mostrar os habitantes da Peninsu-
la inteiramente identificados com os romanos.

« Entre os muitos factos, que fora facil amontoar
em prova d'isso, um dos mais notaveis é, em nosso
entender, o usarem de nomes puramente latinos to-
dos os individuos hespanhoes do tempo dos impera-
dores, de modo que os nomes barbaros desappare-
cem inteiramente, circumstancia que se não repetiu
durante o dominio dos wisigodos, quando aliás cre-
mos indubitavel o haverem estes abandonado a lingua
gothica pelo romano-rustico, sem que por isso dei-
xassem de figurar na historia os Theodoriks, ou Eu-
riks, os Heermangilds. E o mesmo se póde dizer do
dominio arabe, durante o qual, segundo o testimu-
nho, tantas vezes citado de Alvaro de Cordova, /os
mosarabes esqueciama sua lingua romanas para só

n

fallarem o arabe, conservando, todavia, os nomes
proprios da origem grega, latina e goda, como se vê
da historia e dos documentos d'esse periodo..

Cita depois a anecdota de Aulo-Gellio, que acima
referimos já, e conclue assim: «Em um livro philo-
logico, Gellio, chamando ao latim lingua patria de
um hespanhol, não nos deixa a menor duvida de que,
no tempo de Hadriano, esta linguagem não era para
um filho da Hespanha um idioma estudado nas es-
cholas, mas a propria do seu paiz.»

Terminaremos este artigo mostrando que as passa-
gens de diversos auctores latinos, citadas pelos de-
fensores das origens celticas, não destroem a doutri-
na que acabamos de expor. (Vej. «Mem. » do Sr. S.
Luiz, e «Opusculo »).
JOSÉ SILVESTRE RIBEIRO.

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O Templo, ó rei, que ás nuvens elevaste,
Ante os olhos de Deus favor não acha;
Os primeiros sacrificios regeitados,
E os agoiros contrarios te annunciam
Que o Senhor não acceita a tua offerta.
Um crime em Israel foi consummado,.
E tu, ó rei, não castigaste o crime!
D'este templo os umbraes transpôr não podes
Sem que á justiça tenhas satisfeito!
Que do idolatra o pé manchar não possa
O marmore sagrado. O céu ameaça!..
Monarcha d'Israel, curva o joelho,
Humilha-te ao teu Deus, sê penitente,
Que o raio do Senhor vem imminente.

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