Page images
PDF
EPUB

forão renovados; e ultimamente refere o que succedeu, n'este particular, desde 1750 até á epocha em que escreveu.

Logo nos primeiros tempos dos nossos descobrimentos maritimos, e successivamente até á epocha do nosso maior poder nas Conquistas, apparecem Religiosos da Congregação da Terceira Ordem de Portugal, e tambem de outras Ordens, que forão bons companheiros n'aquelles trabalhos, levando a palavra Evangelica á Africa, e á Asia, para o que, ou hião já munidos do conhecimento das Linguas Orientaes, ou se adestravão no manejo d'aquellas que especialmente se fallavão em determinadas regiões.

Nas Linguas Grega, Arabica, e Hebraica encontra o Author, logo no fim do seculo xv, alguns Religiosos que dérão mostras de grande applicação e proficiencia.

«Depois que de París se recolherão ao Reino, Pedro Henriques, e Gonçalo Alvares (diz o Author), sabios não sómente no Grego, mas tambem no Hebraico, e sendo nomeados por ElRei D. João 111 para a Reforma da Universidade de Coimbra em 1537, com o Doutor Fabricio, Mestre de Grego, o Doutor Roserto do Hebraico, Bachanano, Antonio Mendes, e outros muitos instruidos nas ditas Linguas Orientaes, fazião tanto progresso os nossos patriotas, assim Seculares, como Regulares, que o mesmo Clenardo, visitando aquella Universidade, se admirou, parecendo-lhe ter revivido outra Athenas.>>

Menciona o Author os Religiosos da sua Congregação, que se aproveitárão dos exemplos e instrucção de tão sabios Mestres. O primeiro que se distinguiu n'esta epocha foi o Provincial Fr. Pedro do Espirito Santo, ao qual chamárão por antonomasia o Grego. O exemplo do Provincial despertou a curiosidade nos subditos, muitos dos quaes se distinguirão depois no estudo d'aquelle idioma. O mesmo Provincial se applicou tambem muito seriamente ao Hebraico.

«O Ajax de Sophocles do Dr. Fr. Angelo da Cruz, Procurador que foi d'esta Corporação em Roma, ainda se conserva sem cousa mais importante que os significados proprios das palavras, e raizes mais difficultosas, escriptas pela sua letra.»

No principio do seculo XVII distinguiu-se, como grande Helenista, Fr. Valentim Feo, que tambem foi Provincial d'esta Congregação.

Na Lingua Arabica foi instruido o Capellão Mór do Exercito, na infausta jornada de D. Sebastião, Fr. Bernardo da Cruz. O Provincial Fr. Luiz de Figueiredo não só sabia o Arabico,

mas tambem o Hebraico: deixou um Commentario sobre as Epistolas de S. João, que abona os seus conhecimentos hebraicos.

Fr. Luiz de Figueiredo, Procurador Geral da Provincia em Valhadolid, tomou parte em controversias sobre textos hebraicos.

No seculo XVI houve notavel applicação ao Hebraico, distinguindo-se o Provincial Fr. Marcos da Trindade. Depois dos sabios Azambuja, Foreiro, Pinto, o Bispo Soares e outros, concorreu grandemente para sustentar este genero de erudição o famoso Bispo D. Jeronymo Osorio; mas depois de 1578 declinárão sensivelmente os estudos, e as boas lettras esmorecêrão.

Prosegue o author na colheita de noticias até ao anno de 1750, em que o grande Cenaculo vai assistir ao Capitulo Geral em Roma, presidido por Benedicto XIV.-Cenaculo, em voltando d'aquella digressão, apaixona-se pelo estudo das Linguas Orientaes, e consegue communicar o seu enthusiasmo a um grande numero de Religiosos da sua Congregação.

Em 1759 manda ElRei D. José abrir aulas publicas da Lingua Grega, e confia aos Prelados de algumas Ordens Religiosas o cuidado de promoverem o estudo da Lingua Hebraica.

Por Alvará de 3 de Junho de 1769 he approvado um novo plano de Estudos para a Congregação da Terceira Ordem de Portugal.

Em 1770 sahem as Instituições para o Noviciado de Lisboa, feitas por Cenaculo. Não esquecem as Linguas Orientaes; Fr. João do Apocalypse ensina o Grego, e tornão-se notaveis n'essa disciplina Fr. Diogo de Santa Thereza, e Fr. Domingos de Santa Isabel.

Em 1768 tinha vindo a Lisboa Abrahão Ben Isai, o qual começou a ensinar o Hebraico e Chaldaico ao Mestre Fr. Elzeario Lobo, e o Arabico a Fr. João Baptista de Santa

Thereza.

Distinguiu-se no Hebraico o Mestre Fr. Francisco da Paz. Por esses tempos veiu a Lisboa o Vigario Geral de Antiochia, D. José Maron, o qual fallava o Arabico e Syriaco, e muito adiantou a instrucção dos Religiosos.

Mais tarde veiu tambem a esta Capital o Maronita D. Paulo Hodar, muito habil e sabio nas Linguas Hebraica, Chaldaica, Syriaca e Arabica, o qual, graças igualmente ás diligencias do grande Cenaculo, foi aproveitado para o ensino d'aquelles idiomas.

A acceitação, para Religioso, do Padre Fr. João de Sousa, natural de Damasco, concorreu muito para o estudo do Arabico.

Na Congregação da Terceira Ordem foi o grande Cenaculo a alma e o desvelado promotor do ensino e progressos das Linguas Orientaes; tambem outras Congregações vierão beber n'aquella a instrucção; e habeis Mestres, e distinctos discipulos apparecêrão n'aquellas disciplinas.

Eis, muito em resumo, uma idéa do trabalho de Salgado. Ainda quando o erutido author, cujo methodo e estylo não podêmos aliàs inculcar para modêlo, não dissesse cousas muito valiosas sobre o estudo, ensino, e progressos das Linguas Orientaes em Portugal,―sería, assim mesmo, interessante o seu opusculo, pelas noticias biographico-litterarias que nos transmitte ácerca do grande Cenaculo.

Vej. os seguintes Escriptos:

COMPENDIO HISTORICO DA CONGREGAÇÃO DA TERCEIRA
ORDEM-por Fr. Vicente Salgado. Lisboa. 1793.

No fim do Compendio vem um Cathalogo dos Prelados Maiores, que regêrão aquella Congregação até ao anno em que escreveu Salgado.

MEMORIAS HISTORICAS DA UNIVERSIDADE de Coimbra -
por Francisco Leitão Ferreira-pag. 545.

CONCLUSÕES DA HISTORIA DA PHILOSOPHIA-Impressas em
Coimbra no anno de 1751. São de Cenaculo.

INSTRUCÇÕES PARA OS PROFESSORES DE GRAMMATICA LATINA,
GREGO, HEBRAICO, E RHETORICA-de 28 de Junho de
1759.

PLANO DE ESTUDOS DA PROVINCIA DE PORTUGAL-Lisboa. 1769.

CONCLUSÕES DA GRAMMATICA HEBRAICA, E ARABICA-Impressas em 1773.

ACADEMIA CELEBRADA PELOS RELIGIOSOS DA ORDEM TER-
CEIRA DE S. FRANCISCO DO CONVENTO DE NOSSA SENHORA
DE JESUS DE LISBOA, NO DIA DA SOLEMNE INAUGURAÇÃO
DA ESTATUA EQUESTRE DE ELREI D. JOSÉ 1.-Lisboa.

MEMORIA DO COMEÇO, PROGRESSOS, E DECADENCIA DA LITTE-
RATURA GREGA EM PORTUGAL, DESDE O ESTABELECIMENTO
DA MONARCHIA ATÉ AO REINADO DO S NIOR D. JOSÉ I
por Fr. Fortunato de S. Boaventura.

MEMORIA SOBRE o começo, progressos, e decaDENCIA DA
LITTERATURA HEBRAICA ENTRE OS PORTUGUEzes Catho-
LICOS ROMANOS, DESDE A FUNDAÇÃO D'ESTE REINO ATÉ
AO REINADO DE ELREI D. José 1-por Fr. Fortunato
de S. Boaventura.

D'estas duas ultimas Memorias faremos especial menção no Capitulo 3.o d'esta Obra.

DISSERTAÇÃO HISTORICA E CRITICA, QUE PARA APURAR O CATHALOGO DOS CHRONISTAS MORES DO REINO E ULTRAMAR ESCREVEU-Fr. Manoel de Figueiredo. 1789.

Darei aqui a indicação do resultado a que chega o Author: -Chronistas Móres na Lingua Portugueza, a respeito dos quaes não ha duvida.

Fernão Lopes. Começou a servir em 1434. Teve Carta em 1449;-Gomes Eannes de Azurára, Carta em 1459; Vasco Fernandes de Lucena, 1484; Rui de Pina, 1497; Fernando de Pina, 1525; D. Antonio Pinheiro, 1550; Francisco d'Andrade, 1593; Fr. Bernardo de Brito, 1614; João Baptista Lavanha, 1618; D. Manoel de Menezes, 1625; Fr. Antonio Brandão, 1644; Fr. Rafael de Jesus, 1682; José de Faria, 1695; Fr. Bernardo de Castello Branco, 1709; Fr. Manoel dos Santos, 1726; Fr. Manoel da Rocha, 1740; Fr. Antonio Botelho, 1745; Fr. José da Costa, 1747; Fr. Antonio Caldeira, 1755; Fr. Antonio da Matta, nomeado pela Senhora D. Maria 1.

-Duvidosos, na Lingua Portugueza:

João Camelo; D. Pedro Alfarde, e mais Priores Claustraes de Santa Cruz de Coimbra, até 1460; Alvaro Gonçalves de Caceres; Duarte Galvão; Damião de Goes; Antonio de Castilho.

—Chronistas, na Lingua Latina:

Fr. Francisco de Santo Agostinho Macedo, 1650; o Padre Antonio dos Reis, 1726; o Padre Estacio d'Almeida, 1738; 0 Padre Joaquim de Foyos, no reinado da Senhora D. Maria 1. (João Baptista de Castro diz que fôra Diogo Mendes de Vasconcellos o 1.o Chronista de Portugal na Lingua Latina.)

Chronistas, no Ultramar:

Diogo do Couto, por mercê de Pilippe 1-India; Antonio Bocarro, Filippes-India; Diogo Gomes Carneiro, 1673Brasil; Ignacio Barbosa Machado-Chronista de todas as Provincias Ultramarinas, 1725; Francisco Xavier da Serra-no reinado da Senhora D. Maria 1.

-Escriptos a consultar:

Bibliotheca Lusitana-a cada nome dos supramencionados.
Hist, Geneal. da Casa Real Port.
Goes, Chron. d'ElRei D. Manoel.

Barros, Decadas.

Chancellaria de diversos reinados-Torre do Tombo.

-MEMORIA SOBRE A MATERIA ORDINARIA PARA A ESCRITA DOS NOSSOS DIPLOMAS, E PAPEIS PUBLICOS-por José Anastacio de Figueiredo. 1791.

De algum modo interessa á Historia Litteraria indagar a materia em que escrevião os nossos antepassados, e embora não fosse mais do que uma curiosidade esta indagação, teriamos por conveniente mencionar esta Memoria, que aliàs tem todo o cabimento na Diplomatica e na Legislação.

Limitando-nos ao tempo dos Gregos e dos Romanos, vemos que a materia mais ordinariamente por elles empregada, para a escripta, era o papel egypcio, preparado e fabricado com as tunicas e laminas da casca da planta papyrus (uma especie de Cyperus ou junça), que lhe deu o nome. Este papel era branco, como o de que usamos hoje, e pouco se differençava d'este. No oitavo ou nono seculo, começou a fazer-se uso do papel de algodão, ou bombycino, abandonando-se insensivelmente o do Egypto, por um principio de mui natural economia. O que succedeu assim no Oriente, tornou-se mais forçoso no Occidente, desde que, por industria dos Francezes, se entrou a fabricar o papel de trapos e pannos velhos; de sorte que todas as outras materias ficárão em esquecimento, á excepção do pergaminho.

O pergaminho foi inventado pelos Reis de l'ergamo, donde tomou o nome, por lhes faltar a charta ou papel, quando Ptolomeu destruío todos os Papyrus, e registos, que se fazião no Egypto. Sendo o pergaminho feito, como ainda hoje, de pelles de animaes curadas, foi facil perceber o quanto era mais duravel do que o papel feito de pannos e trapos velhos; como, porém, este

« PreviousContinue »