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CATALOGO DOS AUTORES QUE SE LÊRÃO, E DE QUE SE TOMÁ~ RÃO AS AUTORIDADES PARA A COMPOSIÇÃO DO DICCIONARIO DA LINGOA PORTUGUEZA. FORMADO PELA ORDEM DAS ABBREVIATURAS DOS NOMES E APELLIDOS DOS MESMOS AUTORES, E

DOS TITULOS DAS OBRAS ANONYMAS.

(Vem no 1.o e unico Tomo do Diccionario da Lingua Portugueza, publicado em 1793 pela Academia Real das Sciencias de Lisboa,-o qual parou no verbo n. Azurrar.)

«O intento do... Catalogo (diz-se no Aviso ao Leitor) he dar aos Leitores do Diccionario huma breve, mas clara noção da idade, em que florecêrão os Autores, que nelle se citão, com

declaração de suas patrias, quando estas se conhecem, e hum juizo geral do seu merecimento litterario ou tirado do intrinseco exame de suas obras, ou das autoridades extrinsecas, com que aquelle se acha já comprovado.»

O Catalogo póde ser considerado como um Supplemento á Bibliotheca Lusitana, em quanto aos Authores que se lêrão para a composição do Diccionario; e he muito de notar que os titulos das obras citadas no Catalogo são, pela maior parte, mais exactos do que os da Bibliotheca Lusitana, pois que tiverão os Academicos o escrupuloso cuidado de os trasladarem por inteiro e fielmente, dos exemplares de que se servírão, transcrevendo-os com a orthographia que têem nas diversas impressões.

Para se conhecer a fundo a natureza especial, e merecimento do Catalogo, he indispensavel ter em vista as seguintes prescripções da Planta do Diccionario:

«Começar-se-ha a leitura dos Autores Portuguezes, que conservamos, pelos primeiros Escritores, que principiárão a formar a nossa lingoa. Taes são o Nobiliario do Conde D. Pedro, as Chronicas de Fernão Lopes, Gomes Eannes d'Azurara, a anonyma do Condestavel D. Nuno Alvares Pereira, a Vita Christi, que se diz ser de Fr. Bernardo de Alcobaça, a Regra e Perfeição da conversação dos Monges pela Senhora Infanta D. Catharina, o Cancioneiro Geral, publicado por Garcia de Resende, a Menina e Moça e mais obras de Bernardim Ribeiro, as de Gil Vicente, e quaesquer outras, que estiverem impressas, ainda que sejão da mais remota antiguidade....... Continuar-se-ha a mesma leitura desde Francisco de Sá de Miranda, o primeiro dos nossos polidos e elegantes Classicos, o mais chronologicamente,

que for possivel por todo o decurso do 16.° e 17.o seculos, em cujo fim se lhes fixará o termo.»

=

<< Dar-se-ha sempre a preferencia para autorizar os vocabulos áquelles dos nossos Autores, que indisputavelmente se reputão Classicos. E posto que neste numero se devão contar todos quantos decorrem desde o meio do 16.° seculo até fim deste mesmo seculo, e ainda alguns primeiros do outro immediato; aquelles porem, que mais constantemente castigárão as suas obras, e tem mais reconhecido e provado credito por causa da elegancia de seu estilo, serão tambem com mais frequencia citados, não se havendo tanto consideração ao tempo, como ao intrinseco merecimento de seus escritos.»>=

=«Da mesma sorte se procederá com os Authores que se seguem a Fr. Luiz de Sousa até ao fim do seculo passado (17.0). Delles se fará porem selecção, admittindo sómente os que por sua lingoagem e estilo se julgarem disso merecedores. »>=

He tambem necessario, para se avaliar o alcance do Catalogo, ponderar que os Academicos entendêrão que a idade mais elegante da pureza da nossa lingua poderá contar-se desde 1540, em que começárão a ler na Universidade de Coimbra os insignes Mestres, que ElRei D. João III nella estabeleceu, -e terminar-se no anno de 1626, na qual sahio á luz a primeira parte da Historia de S. Domingos por Fr. Luiz de Sousa.

Mencionamos neste logar o Catalogo, como um trabalho bibliographico; mas havemos de occupar-nos delle mais detidamente, quando tratarmos da Critica Litteraria.

CATALOGO DOS LIVROS, QUE SE HÃO DE LER PARA A CONTINUAÇÃO DO DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUEZA—mandado publicar pela Academia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa 1799.

Este Catalogo, feito seis annos depois da publicação do 1.o tomo do Diccionario, apresenta por ordem alphabetica os nomes dos Authores Portuguezes, e os titulos das obras anonymas, sem as noticias biographicas e criticas, que traz o Catalogo antecedente; comprehendendo sómente os nomes dos Authores, e o titulo das Obras, com as indicações do logar da impressão, anno, e impressor. Em quanto ás obras anonymas copía por extenso os titulos, conservando a ordem alphabetica entre os nomes dos Authores, pela primeira palavra dos titulos.

O Catalogo começa pelas palavras Academia dos Singulares,

como o antecedente, mas termina pelo nome de Xisto Figueira, em quanto que o antecedente termina com a obra de Vita Christi.

Traz no fim a seguinte advertencia:

=«Adverte-se em primeiro lugar, que os descuidos, enganos, e faltas, que se acharem n'este Catalogo, se devem cuidadosamente emendar, e supprir na conta, que se dér dos Livros, que se lêrem, segundo o que se prescreveo no plano do Diccionario (Desgraçadamente nunca tal conta chegou a ser dada, pois que não progredio o Diccionario da Academia.) Em segundo lugar, que os Livros, que aqui não estão apontados pelas mesmas causas, e por ignorancia, se devem accrescentar com o mesmo cuidado, sendo daquelles, que, segundo as regras estabelecidas, se deverão ler.»=

Este Catalogo he em todo o caso um excellente subsidio bibliographico, para o conhecimento dos Authores Portuguezes nos seculos XV, Xvi, e xvii.

HISTORIA DA ACADEMIA REAL DA HISTORIA PORTCGUEZA -composta por Manoel Telles da Silva, Marquez de Alegrete... Lisboa 1727.

Menciono n'este logar esta obra, e com especialidade o erudito Prologo, por que contém este uma resenha curiosa dos nossos Historiadores até ao anno de 1727.-Passo a dar uma noticia resumida das informações que d'esse Prologo podem colher-se para a nossa Historia Litteraria, citando os juizos criticos do Author:

Historia Ecclesiastica Geral.

O Licenciado Jorge Cardoso.-Author do Agiologio Lusitano. <«< Obra incompleta, e escripta com não menos diligencia, que credulidade. Para ser completa, devia comprehender o anno inteiro; porém só forão impressos os primeiros seis mezes. Uma douta penna da nossa Academia a tem continuado. >>

D. Rodrigo da Cunha.— Historia das Igrejas do Porto, Braga e Lisboa. «Com quanto escrevesse em tempo em que erão estimados alguns authores apócryphos, tem recebido elo- ́ gíos e approvação dos homens doutos. He para lamentar que não estendêsse ás demais Diocéses o trabalho, que consagrou ás tres indicadas. >>

Vidas de Varões illustres em santidade; e Chronicas das Religiões.

O Padre João de Lucena.-Vida de S. Francisco Xavier. Fr. Luis de Sousa.—Hist. de S. Domingos. Vida do Arcebispo. Fr. Manoel da Esperança.-Hist. Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco. «Estas, e outras Chron. das Religiões somente contèem uma narração do que pertence a cada uma das suas provincias, ficando tudo o mais, que toca ao resto da Igreja, sem Historiador, e sem mais outras noticias, que as que se podem colher das Constituições dos Bispados, e dos poucos Synodos, que delles ha impressos.>>

Chronicas Especiaes.

Duarte Galvão.—Chronica do Conde D. Henrique. «Como a não li, não posso dizer o que contem, nem affirmar que existe. >>

Duarte Galvão.-Chronica d'ElRei D. Affonso Henriques. «Ha poucos dias com grande desacerto mutilada se imprimio em Lisboa; he muy breve, ainda que refere as principats accoens daquelle grande Rei; porem entre, ellas conta algumas tão inverosimeis, que o fazem merecedor do pouco credito, que os homens prudentes lhe dão nesta parte.» Fernão Lopes.-Chronicas de D. Pedro 1.o, D. Fernando, e as duas partes da de D. João 1.o « Nestas composições não deixou de merecer a estimação, que sempre teve, e que justamente lhe devia dar a primazia do cargo, que occupou.»> Ruy de Pina.-«< Reformou as Chronicas dos nossos Reys desde D. Sancho 1.o até D. Affonso 4.o, e tambem a de D. Duarte e a de D. João 2.° Os nossos Academicos, que se tem valido da lição deste author, tem observado nelle algumas contradiçoens, que provão seguiria no que escreveo, o que já estava composto. »

Damião de Goes.-«Começou a elevar a mayor gráo de perfeição a nossa Historia nas Chronicas que compoz d'ElRey D. João 2.o sendo Principe, e d'ElRey D. Manoel.» García de Rezende.-« Compoz a Chronica d'ElRey D. João 2.o com tal ordem, que mais parece hum summario de acçoens, do que Historia. Estylo claro. Meréce credito por contemporaneo, com quanto alguns, por esse mesmo mo

tivo, e por ter sido moço da guarda roupa do mesmo Rey, e muyto favorecido deste, o julguem por suspeyto. » Duarte Nunes de Leão.- -«Abrío caminho á Critica da nossa historia, escrevendo com juizo e madureza as Chronicas dos primeiros dez Reys de Portugal. Tambem se lhe attribúe a Chronica, que vulgarmente se chama dos tres Reys. Francisco de Andrade.

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«Escreveo a Hist. d'ElRey D. João 3.o, com a falta que muitas das outras Chronicas tem, por não tratarem do governo economico do Reyno. No estylo conservou a clareza e naturalidade do seculo que acabava. » N. B. Aqui só dou conta, e ainda assim muito em resumo, do que diz o Marquez de Alegrete; no entanto, quando no 2.° volume tratar da Critica Litteraria, occupar-me-hei detidamente com o assumpto importantissimo da historia e merecimento diverso das nossas Chronicas.

Vidas de Reys, Principes, e grandes homens.

D. Fernando de Menezes.-(Conde da Ericeira) « Compoz a vida d'ElRey D. João 1.° He um opusculo bem escripto. » O mesmo juizo faço da Vida d'ElRey D. João 2.o composta na Lingua Latina com o titulo de Rebus gestis Joannis secundi; sem que as naturaes suspeiçoens me intimidem para deixar de dizer que esta obra he digna de seu Author. >> D. Agostinho Manoel.-Vidas d'ElRey D. João 2.o, e de D. Duarte de Menezes. «Manoel de Faria e Sousa entende que este Author foy mais Politico, que exacto. >>

Fr. Miguel Pacheco.- « Compoz a vida da Infanta D. Maria, filha d'ElRey D. Manoel, com grande approvação, pelo juizo, clareza de estylo, e boa ordem com que escreveo. »> D. Jeronimo Osorio.« Insigne na Lingua Latina, na qual, além de outras mais, e mayores obras, compoz tambem a Vida d'ElRey D. Manoel com tanta elegancia, e pureza de estylo, que justamente he avaliado pelo mayor professor da Lingua Latina dos seculos modernos. >>

Jacintho Freire de Andrade.-« Pelo estylo exquisito e particular com que compoz a historia ou panegirico, assemelhase a Paterculo entre os Latinos; sustentou a reputação da Historia Portugueza, que começou a declinar ainda do estado em que estava, no tempo em que tambem se abateu a Monarchia. >>

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