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RETRATO DO SENHOR REI D. PEDRO 4

que a Sua Augusta Suva offerecen

A ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA.

DO

SENHOR REI D. PEDRO IV

RECITADO

ΝΑ

ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA

EM SESSÃO ORDINARIA DE 13 DE JULHO DE 1836

E

ACOMPANHADO DE NOTAS E PEÇAS JUSTIFICATIVAS

PELO

Marquez de Resende

SOCIO NACIONAL CORRESPONDENTE DA MESMA ACADEMIA

SOCIO DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE MUNICH

SOCIO HONORARIO DA SOCIEDADE REAL DE NAVEGAÇÃO DE LONDRES
MEMBRO TITULAR DA SOCIEDADE FRANCEZA DE ESTATISTICA UNIVERSAL
DO INSTITUTO DE AFRICA PARA A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA
E DA ACADEMIA DA INDUSTRIA AGRICOLA, MANUFACTORA E COMMERCIAL DE PARIS

LISBOA

TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA

1867

HARVARD COLLEGE LIBRARY FROM THE LIBRARY OF

FERNANDO PALHA

DECEMBER 3, 1928

ELOGIO HISTORICO

DO

SENHOR REI D. PEDRO IV

RECITADO

NA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA

EM SESSÃO ORDINARIA DE 13 DE JULHO DE 1836

E

ACOMPANHADO DE NOTAS E PEÇAS JUSTIFICATIVAS

Stat magni nominis umbra.

LUCANUS.

Senhores. Um Principe, ainda na flôr da edade e já no auge da gloria morreu! Dois mundos tomaram luto por elle [1]. Tarde viria eu consolar-vos d'esta perda, se, tendo decorrido quasi dois annos depois d'ella, viesse renovar a ferida trazendo-a do silencio á lembrança [2]. Basta o sentimento que ella causou, e que, como o amor, chega onde a lingua desfallece [3]. Contente-se a nossa saudade com as lagrimas que verteu, pois nem tantas deram a Tito os romanos chorando, sem fé na vida futura; nem a acerbidade das dôres está isenta da jurisdicção da morte [4]. Outras foram, como sabeis, as minhas vistas no empenho e desempenho da palavra que vos dei, e me tomastes, de fazer este discurso.

As lettras, perpetuadoras dos claros feitos de varões illustres, e conservadoras das coisas passadas contra a inclemencia do tempo e o esquecimento dos homens [5], que ainda é maior tyrannia, são tambem as pedras de toque das mais nobres inspirações.

Devendo, nas exequias do imperador Justiniano I, dador de um codigo ti

rado de leis antigas e cujas armas foram sempre vencedoras, cobrir-se o ataude que encerrava o seu corpo com um panno honrador dos seus serviços, mandou a imperatriz Sophia tecer a figura d'elle n'um tapiz, onde fez tambem marcar as proezas que elle obrára, assim na paz, como na guerra; estendendo a piedosa princeza sobre aquelles despojos da vida este véo da immortalidade [6].

Mal podia, senhores, deparar-me a fortuna um caso mais analogo ao que deu occasião a que eu fallasse hoje n'este logar.

Constando á augusta viuva do Senhor D. Pedro (nome, que, pela popularidade que lhe deram as acções do nomeado, eu profiro desacompanhado de titulos [7]) que esta Academia por elle resurgida, e que o elegeu para seu Presidente [8], queria collocar a sua effigie n'esta sala onde se cultivam as sciencias e as lettras, mandou a generosa e attenciosa princeza tirar uma copia do quadro onde a doce e viva lembrança de seu Saudoso Consorte, guiando o pincel de um artista que poucas vezes o vira, fez reproduzir as suas feições; e ordenando tambem, que, na moldura, se indicassem as épocas mais notaveis da carreira d'aquelle Principe, que, no coração d'ella, está sempre vivo, encarregou-me de offerecer-vos este retrato do Rei e Regente, cuja imagem moral, ou sombra da sua bella alma, me incumbistes de traçar e expor aqui n'este dia.

Bem justo era, que, n'esta gratificação academica, um habil orador apregoasse os louvores de virtudes tão raras e eminentes. Só assim ficaria eu livre. da quasi forçosa temeridade com que, em presença de tantos e tamanhos engenhos, vou discorrer sobre um tão bello e amplo assumpto.

Tomando-o eu por asylo [9], será o Senhor D. Pedro, melhor que os sabios que cito, appellando, com medo de que me falte o entendimento, para a memoria, quem, não com rhetorica de palavras, mas com facundia de obras que tanto o exaltaram durante a vida da natureza, vos prove o direito que tem á immortalidade da gloria, que é a maior de todas as recompensas, de um modo claro e pathetico [10]. Assim nol-o affiança uma sentença do summo orador da Grecia [11], e o publico testemunho que da justeza d'ella deu o pae da eloquencia latina quando, para rebater a invectiva de um tribuno, affirmou, em face e com applauso do senado, que tinha salvado a patria [12]. E quem poderá, senhores, duvidar de que a uma egual asserção que, contra certas declamações não menos offensivas, o nosso Principe fizesse perante os corações dos seus antigos subditos, que são o tribunal onde devem ser julgados os reis, toda a gente, a uma voz, clamaria, como fez aquella corporação romana, e nós juramos que tu disseste a verdade.

Querendo eu n'este exordio caracterisar as qualidades proeminentes do Senhor D. Pedro, pondo-o em parallelo com personagens da mesma estofa, mas não achando, n'estes tempos de vontades sedentas e opiniões erradias, com quem

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